Amarelos e a solidariedade anti-racista
Você, asiático-brasileiro, provavelmente já se perguntou qual deve ser o seu posicionamento na luta anti-racista, certo? Ao ver os protestos nos Estados Unidos após a morte do George Loyd e enquanto um policial branco matava um homem negro asfixiando-o com o joelho, tinha a visão conivente de um policial amarelo, apenas monitorando o trabalho do seu colega de profissão.
É claro que não devemos julgar toda uma etnia por conta de uma só pessoa, da mesma forma que não julgaremos policiais negros, o sistema policial é podre aqui e lá também, mas o que utilizaremos é da metáfora que essa imagem simbólica nos traz: de como somos coniventes com o racismo e o ajudamos a perpetuá-lo.
Praticamente todo asiático-brasileiro, amarelos acima de 35 anos são de direita. Homens, principalmente. Ajudam a fortalecer a ideia da minoria modelo, de sermos capachos dos homens brancos e é verdade, se dependesse de nossos primos, pais ou tios, não faríamos nada e tudo se manteria como está.
A geração mais nova é diferente, é questionadora e nós reivindicamos essa luta para nós, coisa que as outras gerações não fizeram.
Mesmo assim, pecamos em diversos aspectos: Nos importamos demais por motivos bestas e pouco nos sensibilizamos pelo que realmente importa. Vidas negras e indígenas estão sendo ceifadas e isso não é de hoje, são séculos de extermínio.
O Bolsonaro diz que somos uma raça com vergonha na cara, mais uma vez eu não poderia estar mais contente em discordar desse abutre. Contudo, somos uma raça com sorte, isso é inegável. Falando como nipo-brasileiro, o Japão sempre foi o país mais “branco” da Ásia assim como posteriormente a Coreia do Sul também, afinal é um país fabricado pelos próprios ianques.
O Japão imperial cometeu crimes de guerras equiparáveis aos nazistas e deixou uma cicatriz para sempre aberta por toda Ásia, mas é claro que eu estou tirando desse barco os imigrantes — tanto os daqui como os dos Estados Unidos — temos uma vivência completamente diferente de alguém de lá, tanto que por mais que tenhamos dúvida ou algum sentimento de não-pertencimento, sabemos bem de onde somos. Daqui e nunca de lá.
Aqui, há muito trabalho a ser feito, crianças negras sendo baleadas dentro de casa, a polícia dando 80 tiros em um carro. Mas onde entramos? Como amarelo, o que eu posso fazer para ajudar?
Primeiro, reconhecemos o nosso privilégio, isso é básico e você provavelmente já leu ou ouviu isso em algum outro texto sobre solidariedade anti-racista. Segundo, é necessário compreendermos o nosso papel de suporte, sendo apenas 1% da população composta por amarelos não há motivos para termos protagonismo, nossa voz é relevante, só que temos que saber quando é necessário falarmos.
O Twitter é uma rede social maravilhosa, podendo nos levar ao melhor ao pior das pessoas em uma questão de minutos.
É de extrema relevância nos impormos como amarelos, levantar essa bandeira, afinal muitos se quer nos consideram dessa forma, é vital para o movimento que se quebre o estigma de sermos brancos. A branquitude sabe bem identificar as cores, algo que as nossas comunidades possuem certa dificuldade.
Todavia, ao nos impormos como amarelos, é mais do que necessário que nos coloquemos de outra forma. Se for argumentando contra brancos, foda-se. Porém, eu já vi acontecer muito, amarelos questionando negros sobre serem racistas.
Vale lembrar, brancos podem ser racistas contra todas as outras minorias, mas negros não podem ser racistas contra amarelos. Por quê? Porque racismo é uma estrutura de opressão que não nos oprime. Não somos nós que estamos constantemente na mira policial. Então, é muito claro para mim quando uma pessoa negra se recusa a aceitar que um asiático-brasileiro não seja branco, porque há muito tempo estamos ocupando um degrau acima e nos beneficiando de privilégios.
O nosso papel, quando isso ocorrer, é tentarmos ser os mais didáticos possível, se a pessoa vai ou não entender já é outra história, mas o nosso papel é de suporte e não devemos nunca nos esquecermos disso. Eu sei que é frustrante ser invalidado, mas — sem querer puxar algum estereótipo — sejamos pacientes.
Nossa luta maior é pela libertação dos povos oprimidos, nós temos um papel importante, lutamos contra causas nobres e temos vivências singulares, mas sejamos solidários, esse tem de ser o nosso principal foco.