Dissecando a Minoria Modelo
A mais recente polêmica do auto-denominado “Asian Twitter” foi o comentário sinofóbico de que chineses eram “brankkkos”, quando isso é proferido por uma pessoa branca, costumeiramente gera indignação, mas é o esperado de uma pessoa branca sem o mínimo de consciência racial. Contudo, tal absurdo foi dito e reforçado por pessoas negras. Quando isso acontece, o que devemos fazer?
Primeiro, não entrarei no mérito de serem ou não garveyistas, essa não é a questão e por mais que eles estivessem errados em agirem daquela forma, precisamos falar de nós para nós antes de estarmos prontos de falarmos para outros grupos.
Primeiramente, chineses são brancos? A resposta óbvia é que não são, A China sofreu horrores com o imperialismo britânico, é sempre bom frisar o “século da vergonha” que ocorreu da segunda metade do séc XIX até a primeira metade do séc XX, quando ocorre a Revolução Chinesa liderada por Mao Tse-Tung.
A Guerra do Ópio é um dos capítulos da história mundial mais desprezíveis, olha que para se dizer isso de um país como a Inglaterra que o que não falta são capítulos desprezíveis é bastante complicado.
Por isso, respondendo ao ponto inicial, chineses são caracterizados desde que a concepção de raça foi atribuída como amarelos, não só eles, mas coreanos, vietnamitas, mongóis e japoneses também. Reforçando que a Ásia não é apenas o Leste, mas também um vasto continente com marrons (e até brancos se formos considerar algumas etnias russas, que podem também se encaixar em amarelos ou marrom, é um debate complexo).
Podemos afirmar que o Japão, principalmente durante o século XX foi a representação branca na Ásia, o império japonês maltratou praticamente toda nação asiática com o seu brutal colonialismo, dessa forma não seria nenhum absurdo afirmar que o Japão era uma nação branca, de atitudes e não de etnia.
Porém, há um abismo entre as ações do Império japonês e dos imigrantes que vieram para a América (alguns nem japoneses eram, mas sim Ainus e Uchinanchus, povos reconhecidamente indígenas que foram oprimidos pela etnia predominante no Japão) muitos uchinanchus, advindos de Okinawa preferiram tentar a sorte em um país estrangeiro do que permanecer na opressão de um país que recém havia anexado o seu reino.
Dito isso, precisamos compreender quando que foi que o Perigo Amarelo se transformou na Minoria Modelo. Isso é fácil também, pós-guerra, com a conciliação submissa do Japão e o surgimento da Coreia do Sul, tornaram-se nações palatáveis ao ocidente branco e capitalista, diferente de países como a China, Coreia Popular e Vietnã que haviam triunfado na revolução socialista (ou viriam a triunfar).
Os seus imigrantes, por outro lado nunca sofreram a opressão extrema, apesar de sofrerem sim racismo, não foram submetidos ao mais baixo grau colonialista, de algum modo nossos antepassados conseguiram ascender socialmente, visto que nunca foram alvos de um extermínio nem de sabotagem.
Aos poucos, nos tornamos cúmplices da branquitude, ressaltando que quem se opõe isso é uma minoria dentro de uma minoria, é muito mais difícil do que parece, nossos estereótipos são quase sempre positivos, por mais que nós tentemos falar que é algo que nos incomoda. Eu quero ouvir que eu sou muito inteligente e estou pronto para roubar a vaga de um branco na universidade.
Dito tudo isso é compreensível entendermos o por quê de algumas várias pessoas acreditarem que asiáticos são brancos, mesmo os marrons que alguns vindos da Síria e do Líbano possuem uma “passabilidade”, como o caso do ex-prefeito de SP, Fernando Haddad ou do ex-presidente Michel Temer.
O apagamento de etnias favorece a branquitude, mas discutir com outras minorias não nos levará a lugar algum, é preciso estudo e práxis, precisamos entender o nosso passado, o nosso presente e construir um futuro mais igualitário, o que podemos fazer? Sendo um movimento momentaneamente virtual (porque quero acreditar que em breve estaremos juntos debatendo pessoalmente) precisamos estudar, fortalecer os coletivos que surgem diariamente e estudar, estudar muito.
Além de estudar, precisaremos educar os nossos iguais, muitos de nós estamos perdidos com toda razão de se estar e outros simplesmente não se importam com isso, são a parte fiel da minoria modelo que sempre existirá, o nosso papel de embate é o de diminuir ao máximo o número de asiáticos chaveirinho de branco.
Seja através das artes (músicas, ilustrações, literatura, etc), através de teoria e de vivências, temos um papel para ser feito, mas é muito mais interno que externo. No momento, nosso principal obstáculo somos nós mesmos.