Kyoto, Yasunari Kawabata (RESENHA)
Kyoto é um romance escrito em 1962 pelo escritor japonês Yasunari Kawabata (1899–1972) que ganhou o Nobel de Literatura em 1968.
O livro conta a história de Chieko, uma jovem que testemunha a falência tanto da loja de sua família, assim como de vários outros estabelecimentos comerciais da antiga capital japonesa, Kyoto. Regida pelas mudanças culturais impostas pelo período pós-guerra, Kyoto vive então sob a influência ocidental, e a história se passa no período imediatamente posterior à retirada das tropas de ocupação norte-americanas. Abandonada quando bebê, Chieko é filha adotiva de um fabricante de quimonos tradicional em Kyoto, e seu pai adotivo, Takichiro Sada, é um artista frustrado, que vê a decadência de sua loja mediante a ocidentalização do Japão.
Num passeio pelo interior, na aldeia de Kitayama, surge um encontro acidental entre Chieko e sua irmã gêmea Naeko, desde a infância criada em ambiente hierarquicamente diverso do seu. A partir de então, as duas irmãs tentam uma aproximação, embaladas pelo destino que constantemente as surpreende. O leitor se vê envolvido pela sutileza do brotar da sexualidade nas duas irmãs, conhecendo aos poucos as paisagens e os festivais da antiga capital, que permaneceu sendo o centro da cultura milenar japonesa.
É o segundo livro do Kawabata que leio, um escritor que rapidamente me despertou enorme curiosidade em toda a sua obra. Porém, Kyoto demorou muito para me cativar, até o seu último capítulo para ser mais exato. É uma história sutil que nos ganha ao nos apresentar o trabalho finalizado. Como um obi e um quimono.
As descrições da antiga capital imperial e todos os seus festivais são fantásticas e imersivas, fazendo jus ao Nobel de Literatura conquistado por Kawabata, com o enredo passando por 3 estações (primavera-outono-inverno) e em cada uma delas sendo valorizada a paisagem de um Japão rural em contraponto de uma Kyoto se modernizando (como a passagem do bondinho) e é fascinante como isso acaba nos ganhando com o tempo.
Revisitando Kyoto, só consigo lembrar da polêmica que envolveu a burguesa Kim Kardashian que tentou patentear o nome “kimono” para a sua marca de cintas modeladoras (?), o que rendeu até uma carta do prefeito de Quioto quase que implorando para que a bilionária tivesse o mínimo de bom senso.
Frente a isso, podemos comparar com o próprio enredo escrito por Kawabata, estamos em 2020, mas o Japão ainda sim é muito bom em preservar a sua cultura, não é diferente dos quimonos que são uma parte importantíssima da cultura de uma cidade histórica e para toda uma população.
Aí, se você entrar no site da Riachuelo, Hering, Renner, essas lojas aí e pesquisar por “kimono” você encontrará algumas blusas com esse nome, inspiração ou apropriação?
Não tenho uma resposta quanto a isso tão pouco acho um debate fácil, mas é importante nos questionarmos sempre de como cultura é facilmente jogada para o setor “inútil e ultrapassada” ou para o outro extremo que é o de “rentável”.
Não vou dizer que é uma leitura fácil, há muitas notas de tradução, além de ser necessário uma maior sensibilidade com a obra, afinal é uma escola literária que não estamos acostumados.
Kyoto é um retrato de um Japão frente às modificações ocidentais e o drama de uma jovem abandonada conhecendo sobre o seu passado e também o seu presente e futuro, Kawabata é um dos escritores mais aclamados do Japão moderno e tem uma vasta coleção traduzida para o português pela editora Estação Liberdade, vale a pena conhecê-lo.