O Ocidente se rende ao “Exótico”… mais uma vez…
Terminei de assistir hoje a nova série coreana da Netflix, Squid Game ou Round 6, como preferir chamá-la. Meu veredito sobre ela é de que é muito boa, tem as suas imperfeições, mas para mim já está mais do que claro que o audiovisual coreano é o melhor do mundo e mais uma vez o ocidente se ajoelha perante ao que eles dizem ser o “exótico”.
Assim como foi na música, com a ascensão que parece não ter fim do K-Pop encabeçada pelos meninos do BTS, ocorreu o mesmo há não muito tempo no cinema, com a heroica vitória do favorito do público e underdog pela crítica, Parasita, do Bong Joon-Ho.
O serviço de streaming mais acessado do mundo já investe há tempo nas produções vindas do Leste-asiático e com um cuidado muito especial na Coréia do Sul e com o sucesso de Squid Game não dá pra delimitar mais esse voo.
Eu poderia falar do roteiro, da trilha sonora, da fotografia ou das atuações primorosas de cada ator, mas não é isso que mais me interessa. Poderia falar sobre a crítica ferrenha ao capitalismo e de como nós, pobres mortais, estamos sujeitos a literalmente qualquer coisa para sairmos do fundo do poço, embora o fundo do poço pareça não estar disposto de se desgarrar de nós.
Estou aqui para falar da fetichização de corpos leste-asiáticos, dos pitacos potencialmente racistas sobre a beleza de ator X ou Y e de como essa visão acaba sendo um perigo para os leste-asiáticos em diáspora, parece que os crimes de ódio contra asiáticos foram há muito tempo nos EUA e aqui no Brasil havia um medo de que eles se repetissem na mesma crueldade. Nossa amarelitude é composta de desconfiança.
É sempre bom frisar que nós não somos, de fato, asiáticos. Porém, nosso lugar na América também é incerto e do Entrelugar é difícil discernir o certo do errado, contudo considero uma dádiva o autocontrole. Como professor já lidei, diretamente ou não, com muita criança mal-educada pelos corredores e é perceptível quando algo é dito por curiosidade ou deboche.
É muito comum muitas armies sendo racistas para poderem defender com unhas e dentes seus príncipes sul-coreanos contra… o racismo que eles potencialmente sofrem nos países do lado oeste do globo. Para elas, é muito claro que nós não somos asiáticos, porque evidentemente somos “daqui”, porém elas não conseguem entender que a diáspora é uma ferida aberta por nossos avós e bisavós que se arriscaram no passado em busca de uma vida melhor.
Ao mesmo tempo que tudo que é em alto e consumido majoritariamente por meninas adolescentes será visto com maus olhos por uma parcela das pessoas, o ódio nonsense pelo k-pop respinga em corpos amarelos brasileiros, a beleza sempre questionada (ou muito enaltecida também é um problema), as piadas com os traços ou com o idioma, é como se o exótico só servisse para entreter ou nem isso, para ser o adversário a ser batido nos games ou coisa parecida.
No picadeiro, entre Minoria Modelo e Perigo Amarelo, é difícil saber qual é o vidro seguro para pular até o fim do trajeto.
Somos uma parcela minúscula dentro de uma já bem pequena. Adquirir consciência sobre quem somos nunca será simples e na maioria dos casos talvez seja melhor viver sob a luz da ignorância.
Comecei a postar uma Newsletter também! Você pode assinar com o seu e-mail pelo link: https://www.getrevue.co/profile/yuggoto