Orientalismo, perigo amarelo e anticomunismo na esquerda brasileira.
Com a grata exceção cubana, todas as experiências socialistas vivas hoje se encontram no continente asiático (China, Coreia do Norte, Vietnã e Laos) e com alguns países que, atualmente, estão tendo uma abertura maior como a Mongólia, que já foi uma grande potência global e uma experiência socialista que foi muito importante no século XX e que hoje é governada pelo partido mais à esquerda e que entre alguns teóricos já é considerada novamente socialista além do pequenino Nepal.
É deprimente ver de partidos ditos de esquerda no Brasil ignorarem tais experiências como se não fossem válidas aos olhos de Marx (sendo que os partidos governantes adotam o marxismo-leninismo e o maoísmo, é claro, algo raro nas fileiras cá mais numerosas.) Eu tenho absoluta certeza de que se houvessem países com a mesma população e área, mas na Europa, tudo seria diferente. As sempre tão lembradas sociais-democracias escandinavas como o exemplo de um “comunismo que deu certo”, e quanto à Ásia? Depois de séculos de dominação, é óbvio que haverá pobreza, mas não há uma melhora significativa?
Vamos falar do Vietnã, recentemente li uma notícia de que veteranos de guerra estadunidenses estavam se mudando para lá por conta de um custo de vida menor e um sistema único de saúde mais abrangente, da mesma forma que li num site de relatos de viagens uma moça dizendo que esteve por lá e que viu como tudo era precário e etc, inclusive chamando a cidade de Ho Chi Minh de Saigon, bem já não é Saigon há um tempo…
Primeiro que os tais veteranos deveriam ser literalmente proibidos de entrar em um país atacado pelos Ianques. Segundo que sempre existirá anticomunismo por parte da direita burra e dos verbetes questionando o fato de haver empresas como o Pizza Hut e McDonalds em solo vermelho, como se houvessem algum tipo de proibição do tipo de fato.
Além disso, no meio dessa pandemia ataques xenofóbicos contra a nação chinesa e ataques ao PCCh, afinal quando a China estava em clara ascensão sendo a segunda maior economia do mundo ela era obviamente uma nação “capitalista de estado” algo dito até mesmo dentro da própria esquerda, depois de vermos como eles lidaram com o vírus e de como países europeus e os próprios EUA estão lidando vemos como a abordagem socialista funciona em casos de crise. Não preciso nem comentar de Cuba exportando médicos enquanto os Estados Unidos praticam pirataria moderna, né?
Pra finalizar essa parte, vale relembrar de como o Brizolinha, vereador do Rio pelo PSOL foi atacado por fazer uma moção ao povo coreano e o jornal O Globo noticiar, semanas depois do fato, que era uma moção ao “ditador” Kim Jong Un, por parte da mídia e da direita já era o esperado esse tipo de tratamento idiota, mas foi decepcionante ver mais uma vez a dita esquerda se acovardando com medo do que os outros pensariam, vários quadros importantes do próprio PSOL condenando a ação do vereador, a Luciana Genro dizendo que a Coreia Popular não segue os passos de Marx, (e quem é que segue afinal na opinião dela?) me deram muita vergonha de ter eles como camaradas na luta anti-imperialista.
Eu não preciso nem comentar quão idiota é pintar a Coreia do Norte como a vilã de qualquer coisa e um regime ditatorial sanguinário digno do mais cartunesco filme de guerra. Já esperamos o Orientalismo vindo da mídia, mas nunca de camaradas do mesmo lado do espectro político.
Como amarelo, eu cresci por aqui já sendo “O Outro”, na época dos meus avós que imigraram para o Brasil havia uma forte xenofobia contra os japoneses (o que se agravou com o alinhamento fascista do Japão imperial) e o chamado Perigo Amarelo, um dos argumentos era de que se não tomassem cuidado logo todos por aqui estariam falando japonês… décadas se passaram e hoje ocorre o mesmo, só que com chineses.
O filósofo Byung-Chul Han em sua obra máxima “Sociedade do Cansaço” constata que se antes os imigrantes eram vistos como ameaça hoje eles são um fardo, a colônia japonesa no Brasil passou por um embranquecimento cultural como forma de se encaixar na minoria modelo e desse modo auxiliar na opressão de outras minorias, o fardo da situação.
Trabalhei no centro da cidade e mais de uma vez fui alvo de racismo por parte de clientes e vi praticarem contra outros funcionários de outras lojas que, pasmem, eram chineses ou descendentes de.
Dentro da esquerda, fica evidente que eles almejam o fim do capitalismo e a tão sonhada nação socialista, mas grande parte (se salva apenas a ala mais radical) gostaria de ver um líder branco. Isso é um fato. Se hoje os franceses após queimar todos os carros do país e fosse anunciado a ditadura do proletariado os olhos de muitos se encheriam de lágrimas, contudo simplesmente ignoram países como o Vietnã (que ganhou uma guerra contra os Estados Unidos e a França pela libertação nacional e socialista) e menosprezam todos os ganhos sociais da China, colocando Mao Tse-Tung como um dos maiores genocidas do mundo (com base em quê?) Lembrando que a China pré-1949 era um país miserável devastado pela colonização europeia e ataques japoneses. Como em tão pouco tempo a China se tornou uma potência? Foi “se abrir” ao capital ou investir em bem-estar social e políticas públicas?
Não há um consenso sobre a China, mas tudo o que não precisaríamos seria de desinformações contra essa nação soberana. Há quem diga que a revolução foi traída, mas quem traiu quem no fim das contas? A revolução resiste, do outro lado do mundo enquanto por aqui a despolitização segue nos afogando e as nossas lideranças mais relevantes cada vez mais sem voz.
Em “O Socialismo é uma Ciência” de 1994, um dos líderes da Coreia Popular, Kim Jong Il (pai de Kim Jong Un) nos apresenta e defende a ideia Juche e de como ela funciona em seu país, além dos desafios que é necessário enfrentar contra o anticomunismo e o imperialismo.
a teoria burguesa reacionária, a qual, preconizando o misticismo e o fatalismo, santificava o capitalismo e profetizava seu caráter “eterno”. Atualmente, os traidores do socialismo, ao se iludir com o capitalismo, defendem a preponderância do material e do econômico, para ressuscitá-lo. (KIM, 1994)
No artigo, exalta o ser humano político acima do biológico (físico) e espiritual, pois segundo ele sem o ideal político os outros ideais não conseguem existir. Por isso, há sempre o esforço da burguesia em tentar minar qualquer tipo de pensamento crítico por parte do povo.
É necessário conhecer para se opinar de determinado assunto, além disso é de máxima importância tirarmos três véus do rosto ao examinar as atuais experiências socialistas: O Perigo Amarelo, ao acreditar que a China dominará o mundo e subjugará os povos (coisa que sabemos quem está acostumado a fazer), o orientalismo, presente nos veículos de mídia sempre dispostos a rebaixar os países asiáticos, principalmente aqueles que fogem da linha Coreia do Sul e Japão, curiosamente os pontos de maior influência ocidental por lá) e é claro o anticomunismo, afinal isso já esperamos por parte dos isentos, neoliberais e conservadores, mas é sempre péssimo lidar com isso do mesmo lado da trincheira.
Não existe apenas Marx, Engels, Lenin e Trotsky para serem lidos, deem uma chance aos revolucionários asiáticos e também africanos, leia sobre o Ho Chi Minh, se aprofunde também no maoísmo antes de pensar em descartá-lo, afinal esse é um movimento muito forte dentro dos partidos comunistas asiáticos (Seria esse o segredo para o sucesso?), leia sobre Kim Il Sung e a ideia Juche, faça o que for, mas deixe a esquerda menos branca.